A velha e a casa
- GrazieliAnjos
- 21 de jan.
- 2 min de leitura

Dona Eulália, uma senhora viúva, habitava uma imensa casa de pedra no topo de uma colina. A casa, com suas janelas emolduradas por cortinas de renda amareladas pelo tempo, guardava memórias de uma época em que a risada de crianças ecoava por seus corredores. O jardim, que já foi brilhante e vibrante, agora exibia flores murchas, mas ainda assim emanava um charme nostálgico.
Com o passar dos anos, a casa, com seus tetos altos e escadas rangentes, começou a refletir a vida de Dona Eulália: repleta de histórias, mas pesada pela solidão. Seus filhos haviam crescido e se mudado para cidades distantes, e o marido, com quem compartilhara tantos momentos, partira havia muito. Agora, a velha senhora encontrava-se rodeada apenas pelo silêncio, que era quebrado ocasionalmente pelo canto dos pássaros.
Um dia, após uma longa reflexão, Dona Eulália decidiu que era hora de se desfazer daquela casa que tanto amava. Com um coração pesado, ela contratou um corretor de imóveis, e logo a casa estava à venda. As pessoas vinham e iam, admiravam a grandiosidade da construção, mas ninguém parecia enxergar suas verdadeiras qualidades. Os visitantes se encantavam com o espaço, mas sentiam a tristeza que pairava no ar.
No entanto, certa manhã, enquanto a brisa leve da primavera entrava pelas janelas, um jovem casal apareceu para uma visita. Eles entraram, com os olhos brilhando de esperança, imaginando a vida que poderiam construir ali. Dona Eulália, em sua habitual gentileza, ofereceu-lhes uma xícara de chá e acompanhou-os pela casa. Enquanto caminhava pelos corredores, começou a lembrar-se dos risos, das festas de Natal, das guerras de travesseiros e dos jantares em família.
Ao chegarem à antiga sala de estar, o casal parou em frente à lareira, onde um quadro empoeirado exibia um retrato de Eulália e sua família. O homem, apaixonado pela história da casa, comentou sobre como aquela imagem parecia contar uma narrativa de amor e união. A velha senhora sentiu um aperto no peito e percebeu que cada canto daquela casa era uma peça de um quebra-cabeça que formava sua memória.
Após a visita, ela se sentou em sua poltrona favorita, refletindo sobre as coisas que realmente importavam. A casa não era apenas uma estrutura de tijolos e madeira; era um templo de suas recordações e emoções. Era o lugar onde crescera, onde amara e fora amada. Tudo que havia ali era um testemunho da sua vida.
Na noite seguinte, enquanto o céu se iluminava com as estrelas, Dona Eulália tomou uma decisão. Com um suspiro profundo, ligou para o corretor e pediu que retirasse a casa do mercado. Ela se comprometeu a cuidar do jardim, a restaurar os cômodos e a trazer de volta a música e a alegria que um dia preenchiam aqueles espaços.
A casa, uma vez à venda, agora voltava a ser o lar de Dona Eulália – não apenas um abrigo, mas um testemunho da sua história, cheia de amor e lembranças que mereciam ser celebradas, não vendidas. Ela sorriu ao imaginar a vida que ainda poderia florescer entre aquelas paredes, decidida a não deixar o passado no passado, mas a abraçar cada novo dia que a casa ainda tinha a oferecer.
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