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Vila esperança, a cidade assombrada



Lucas caminhava por Vila Esperança, uma cidade que era conhecida por suas festividades de primavera e pela arte que produzia. Este ano, a expectativa era alta para a celebração que prometia uma revelação surpreendente. Contudo, ao contrário dos anos anteriores, o clima estava diferente. Enquanto explorava as ruas, Lucas notou um silêncio inquietante. A praça, que normalmente vibrava com risos e brincadeiras de crianças, estava deserta, e as lojas, por sua vez, pareciam esquecidas pelo tempo. A sensação de que algo profundamente errado estava acontecendo o envolveu, mas decidiu ignorar, convencido de que todos estavam apenas ocupados com a preparação da festividade.


Durante horas, Lucas se trancou em seu ateliê, cercado por quadros coloridos de flores e borboletas. Mas mesmo a arte, que uma vez o inspirara, parecia o assombrar. Estranhas imagens dançavam em sua mente, acompanhadas de sussurros que pareciam vir das paredes. Algo o inquietava a cada pincelada.


Finalmente, o tão esperado dia da festividade chegou. A praça, estranhamente vazia dias atrás, ganhou vida com figuras fantasmagóricas que, ao invés de sorrisos, tinham expressões sombrias.


Quando o prefeito subiu ao palco, mal conseguia conter sua empolgação, mas suas palavras ecoavam de um jeito ameaçador. Ele contava sobre a história de luta da cidade, mas sua narrativa parecia estar embebida em um tom macabro. Com um gesto grandioso, anunciou a inauguração de um shopping, mas algo em sua voz deixava claro que a prosperidade estava longe de ser a intenção real.


O público, agora tomado pela avareza, aplaudia freneticamente, mas Lucas permanecia paralisado, com a mente em um turbilhão. Ele esperava uma revelação que falasse sobre arte e criatividade, mas a atmosfera havia mudado para um clima de avareza e desespero.


Decepcionando, decidiu voltar para casa, mas no caminho Lucas passou por uma barraca de artesanato. Seus olhos foram atraídos por uma caixinha de madeira, delicadamente esculpida, que parecia brilhar de forma estranha sob a luz da lanterna. Ao abrir, encontrou uma pedra preta que parecia haver uma descrição em latim em volta dela "Periculum est prope" Lucas não fazia ideia do que aquilo poderia dizer, mas achou aquela pedra linda e resolveu ignorar aquelas palavras.

Pois, ao segurar aquela pedra nas mãos, uma onda de energia percorreu seu corpo, como se a conexão com o objeto fosse algo maior do que ele mesmo. Mas à medida que a festa se desenrolava, Lucas não pôde ignorar o frio que subitamente tomou conta do ar. O céu começava a escurecer, encobrindo a cidade com uma nuvem densa e ameaçadora.


Naquela noite, Lucas sonhou com visões terríveis. O dono do novo shopping, uma figura de aparência encantadora, mas sinistra, aparecia em seus pesadelos, sussurrando promessas de riqueza e poder enquanto sua verdadeira forma se revelava, um demônio grotesco e monstruoso, envolto em ouro e cobiça. Lucas acordou suando, a pedra ainda em sua mesa, reluzindo sob a luz da lua.


No dia seguinte, as notícias sobre o shopping se espalharam rapidamente. A cidade parecia magneticamente atraída por ele, pessoas vendendo suas almas por um desejo temporário de riqueza. Lucas percebeu que a cidade, antes vibrante e acolhedora, estava se transformando em um reflexo do terrível desejo do demônio – um lugar de sombras onde a avareza governava os corações dos moradores.


Seus amigos estavam mudando. Conversas sobre criar arte e compartilhar sonhos foram substituídas por discussões sobre compras e status. Ele embrenhou-se em sua arte mais do que nunca, mas sua inspiração desaparecia, e uma tristeza profunda começou a tomá-lo. Os rostos de seus amigos sempre sorridentes agora estavam pálidos, marcados por um brilho apático, como se uma força invisível os estivesse controlando.


Certa noite, enquanto observava a pedra, Lucas notou que as inscrições em latim começaram a brilhar levemente. Ele se lembrou de algo que havia lido em um livro antigo sobre um objeto poderoso que poderia aprisionar um demônio, e compreendeu que a pedra poderia ser a chave para salvar sua cidade.


Reunindo coragem, ele decidiu confrontar o dono do shopping, uma serpente de sedução que encantavam aqueles que cruzavam seu caminho. Ao entrar no shopping, seu coração batia acelerado. O ambiente era opressivo, preenchido com risos artificiais e vozes distantes que pareciam rir de sua chegada. Nos corredores, a avareza estava palpável; paredes reluzentes de produtos que ninguém realmente precisava cercavam-no como uma armadilha.

Ele encontrou o demônio no topo da escada rolante, sentado em um trono feito de barras de ouro, seu olhar fervendo de um desejo insaciável. "Você vem para se juntar a nós, Lucas?" – Perguntou a criatura, seu sorriso disfarçando uma ameaça. "Basta apenas um desejo, e você também poderá ter tudo."

"Eu não quero nada disso!" – Lucas gritou, segurando firme a pedra. "Eu vendo minha arte, não minha alma!"

O olhar do demônio escureceu, revelando um ódio profundo. "Você é uma mancha em minha obra-prima. Deixe-me acabar com isso." Enquanto as sombras se erguiam ao seu redor, Lucas recitou as palavras que murmuravam em sua mente, transformando a energia da pedra em um feitiço.


Tufos de trevas convergiram contra ele, mas a luz da pedra começou a brilhar intensamente, como uma estrela em meio à noite. Chamas de esperança se espalharam, e Lucas sentiu uma força poderosa passar por ele. Então, Lucas direcionou a luz em direção ao demônio, que começou a contorcer-se, sua forma grotesca revelando-se novamente.

"O que você fez?!" – Gritou o demônio, enquanto a luz envolvia o shopping, fazendo as paredes pulsarem com uma vida ameaçada.

A batalha entre avareza e pureza se desenrolou, e Lucas sabia que sua coragem era a única esperança. Com um último grito, ele lançou a pedra, que explodiu em um brilho ofuscante, aprisionando o demônio em uma prisão mágica. O shopping desmoronou ao seu redor. E o demônio foi finalmente aprisionado.


Logo, Vila Esperança começou a se reerguer e os moradores acordaram do encantamento que estavam. Embora ferida, a cidade respirava um ar novo e fresco, livre das garras da avareza. Lucas, agora um farol de esperança, entendeu que a verdadeira riqueza reside na união e na bondade, e não nas posses materiais.



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